Quando a ficção espelha uma realidade que precisamos enfrentar

Na última terça-feira, 23, em Dona de Mim, a trama chocou ao mostrar Kami (interpretada por Giovanna Lancellotti) sendo vítima de violência sexual perpetrada por um stalker. A cena não tem exploração explícita, mas o impacto foi forte: roupa rasgada, sangue, o choque emocional, o desespero, a reação de vergonha e culpa.
Esse episódio, interpretado e narrado com muita delicadeza, nos leva a uma reflexão urgente. São muitas mulheres que passam por abusos parecidos, muitas vezes gerando danos que se estendem por muito tempo. Sejam por um stalker, por alguém conhecido, ou até familiar, a violência sexual deixa marcas que vão muito além do corpo: trauma, culpa, vergonha, medo. Kamila representa todas essas mulheres.
Denunciar é um dos passos mais difíceis, mas também um dos mais decisivos. Na novela, Kami busca ajuda: dialogue com amigos, confesse o ocorrido, vá à delegacia — ações que resgatam parte do poder que a violência tenta roubar. Denunciar não é apenas responsabilizar quem errou, é também dizer para si mesma: “eu mereço justiça, eu mereço proteção”.
Mas a denúncia é apenas parte do caminho. Depois do crime, é preciso acolhimento psicológico e emocional. Terapia de apoio, grupos de escuta, redes de solidariedade. A exemplo do que Giovanna relatou sobre os bastidores: o peso das emoções no set, o cuidado da produção, a necessidade de preparar a cena para evitar revitimizações. É isso que deve existir também na vida real: estruturas que acolham, compreendam, respeitem o tempo de cada mulher para reagir, para aceitar ajuda, para se reerguer.
Também é fundamental que o sistema de justiça funcione com empatia. Que a vítima seja escutada de forma humana, que sua palavra seja respeitada, que haja sigilo, que o atendimento seja seguro. Porque, sem isso, a denúncia pode se tornar uma segunda violência.
Se você viveu algo parecido, ou conhece alguém que vive, a mensagem de Dona de Mim serve como alerta e como convite: você não está sozinha. Buscar ajuda não é fraqueza, é coragem.
Ligue 180, Delegacia da Mulher, serviços de saúde mental, ONGs que trabalham com atendimento às vítimas. Esses são caminhos reais.
Aline Teixeira

